Apenas um Dia no Mar
Abril / 2024
Nas profundezas do oceano, um jovem peixe, com a curiosidade pulsando em suas nadadeiras, dirigiu-se a um ancião do mar, cuja experiência fluía em cada movimento. Suas perguntas juvenis buscavam as histórias que o tempo havia gravado no ser mais velho.
O peixe com olhar sem expressão e com cicatrizes no corpo passa por eles. Peixe jovem observa e comenta:
Peixe Jovem: “Olha aquele peixe! Suas escamas carregam tantas cicatrizes, e seu olhar… há algo estranho nele.”
Peixe Mais Velho: “Ah, sim. Ele dançou perto da morte, escapou por um triz. Essas marcas são o preço de sua fuga.”
Peixe Jovem: “O que aconteceu? Conte-me!”
Peixe Mais Velho: “Foi a Rede Alienígena.”
Peixe Jovem: “A Rede Alienígena? Ouvi sussurros sobre a vida além da superfície das aguas, sobre aquelas naves que flutuam entre dois mundos! Nunca as vi, mas imagino que encontrar seres tão evoluídos seria extraordinário, uma experiência enriquecedora.”
Peixe Mais Velho: “Nasci nestas águas e nelas encontro meu sossego. O mar já me impõe suficientes preocupações. Além disso, muitos que ousaram o contato não retornaram, e os poucos que voltaram carregam um silêncio denso, evitando as camadas superiores, preferindo a quietude do oceano.”
Peixe Jovem: “Você sabe tanto…”
Peixe Velho: “Apenas fragmentos, confidenciados por um golfinho.”
Peixe Jovem: “Um golfinho? Você conheceu um golfinho?”
Peixe Velho: “Sim, ele foi meu mestre.”
Peixe Jovem: “Incrível! Eles se comunicam com os alienígenas, não é verdade?”
Peixe Velho: “Sim, seres de uma evolução notável. Estão na última etapa do nosso oceano; em breve, emergirão na terra dos alienígenas.”
Peixe Jovem: “Uau! Mas antes, o que é exatamente a Rede Alienígena? O que o golfinho lhe contou sobre ela?”
Peixe Velho: “O golfinho… ele silenciou esse segredo. Disse que certas verdades não devem ser reveladas para preservar o curso natural da vida marinha. Apenas me advertiu para manter distância das tentações do mar: a ‘comida fácil e saborosa’ é perigosa.”
Peixe Jovem: “Mas dizem que a Festa da Comida é maravilhosa! As naves alienígenas chegam, despejando fartura, e todos se lançam para devorá-la! Uma celebração! Sempre desejei presenciar uma.”
Peixe Velho: “Não faça isso! É um perigo imenso.”
Peixe Jovem: “Perigoso? Por quê?”
Peixe Velho: “Porque muitos não regressam, são levados. Aqueles que escapam carregam traumas profundos e desaparecem do nosso convívio. Esqueça essa miragem e siga seu caminho.”
O peixe velho se afastou, deixando o jovem peixe imerso em seus pensamentos.
Enquanto isso, na cidade agitada dos seres humanos, um empresário absorto fitava a janela de seu escritório, o olhar perdido no horizonte distante, alheio às batidas na porta. Ela se abriu, mas seus olhos permaneceram fixos no além. Um homem mais velho entrou e depositou um beijo na cabeça do filho, dizendo com carinho:
Pai: “Bom dia, meu filho.”
O filho continuou contemplando o vazio.
Filho: “Bom dia, pai.”
Pai: “Filho, eu te avisei que fazer negócios com aquele grupo estrangeiro não traria bons frutos. São vorazes, obcecados por números, e estão te consumindo.”
Filho: “Pai, não sei o que fazer.”
Pai: “Filho, pare por um instante. Pegue o barco e desconecte-se desses problemas. Você retornará com a mente clara para decidir o próximo passo.”
Filho: “Tem razão, pai. Farei isso agora mesmo. Ligarei para o marinheiro para preparar o iate.”
Ao chegar à marina, o marinheiro já o aguardava junto ao seu elegante iate de 60 pés, pronto para zarpar.
Marinheiro: “Bom dia, patrão. O barco está a postos.”
Filho: “Bom dia. Quero pescar um pouco, apenas para arejar a mente. As iscas estão a bordo?”
Marinheiro: “Sim, patrão. Peguei uma boa quantidade. A pescaria será farta.”
Filho: “Então, vamos.”
O iate deslizou para fora da marina, adentrando o mar azul sob um sol radiante. Ancoraram em um ponto de águas calmas. O marinheiro lançou um punhado de iscas na água cristalina. Lá embaixo, o jovem peixe e seus companheiros navegavam pelas águas límpidas, iluminadas pelo sol a pino. De repente, um deles chamou a atenção dos demais.
Peixe: “Olhem! A nave dos alienígenas! Estão jogando comida para nós! Vamos! É a Festa da Comida!”
Peixe Jovem: “Melhor não. O peixe velho disse que é perigoso.”
Peixe: “Bobagens! Ele é velho e não aprecia os prazeres da vida. Vamos!”
Peixe Jovem: “Está bem, mas tenham cuidado.”
Todos os peixes se precipitaram para se banquetear, saltitando de alegria pela abundância que caía do iate.
Marinheiro: “Rápido, patrão! Veja que maravilha! Aqui será fácil!”
Filho Empresário: “Ótimo! Você é um expert! Acertamos um cardume!”
O empresário lançou a linha com uma isca, e um peixe logo mordeu. Ao puxá-lo para fora da água, os outros peixes, em sua frenética disputa pelo alimento, não perceberam que um de seus companheiros havia sido fisgado e levado para o iate. O peixe capturado ficou atônito, pensando:
Fui o escolhido! Serei levado para a nave, terei uma vida maravilhosa!
Filho Empresário: “Esse é grande! Tire do anzol e coloque no cesto.”
Dentro do cesto, o peixe fisgado perdeu a consciência em uma sequência de agonia e surpresa diante do inesperado fim enquanto se banqueteava alegremente com os outros.
O jovem peixe comia com entusiasmo quando percebeu que vários de seus semelhantes estavam sendo retirados da água em uma rápida sucessão de fisgadas nos anzóis dos humanos no iate.
O marinheiro-chefe e outros tripulantes pescavam com afinco; até o cozinheiro se juntou à pescaria.
Marinheiro-Chefe: “Nossa, patrão! Que dia lindo! Um atrás do outro, e só peixe graúdo!”
Filho Empresário: “Estou gostando disso! Muito bom!”
O Peixe Jovem mordeu uma isca grande e apetitosa que o cozinheiro lançou ao mar. Sentiu um puxão brusco e a advertência do Peixe Velho ecoou em sua mente. Desesperado, tentou se libertar, sacudindo a cabeça com força. Foi arremessado para fora da água, vislumbrando de cima o convés inferior do iate, onde estavam os pescadores. Viu um cesto repleto de peixes, alguns inertes, outros em agonia. Em um último movimento desesperado, conseguiu se desvencilhar do anzol, rasgando a boca, e caiu de volta ao mar, mergulhando para as profundezas em pânico.
Filho Empresário, rindo, disse ao cozinheiro: “Perdeu um grandão, hein? Você é melhor na cozinha!”
Todos gargalharam alegremente, e o cozinheiro concordou com um aceno de cabeça.
Filho Empresário: “Bom, vamos preparar uma bela peixada. Por hoje já deu.”
Recolheram o cesto e subiram para o convés superior do iate. Logo depois, saboreavam petiscos de peixe frito e bebiam animadamente enquanto a mesa era posta para um delicioso almoço com os peixes recém-capturados.
No mar, o Peixe Jovem, com um leve sangramento, passou perto do peixe velho, que o observou com atenção.
Peixe Velho: “Deixe-me ver… Você teve sorte. Não foi grave e cicatrizará rápido.”
O Peixe Jovem ainda atônito continuou descendo para aguas mais profundas e seguras.